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Por — São Paulo

O episódio em que estudantes de medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa) encenaram uma masturbação coletiva durante uma partida feminina de vôlei em um torneio universitário não é caso isolado. Alunas do curso relataram ao GLOBO, sob condição de anonimato, que o clima de terror psicológico predomina desde os primeiros anos de faculdade, embasado pelo lema "hierarquia, raça e tradição" — que prega obediência e respeito aos veteranos da faculdade.

Nesta semana, a Unisa identificou e expulsou os alunos envolvidos no episódio, que ocorreu durante a CaloMed, competição esportiva entre universidades realizada em abril deste ano. As imagens do ato, no entanto, só começaram a circular ao longo do último fim de semana, e a medida da diretoria foi anunciada no fim da noite da segunda-feira.

Trotes autoritários e o ambiente opressivo vindos de estudantes mais velhos são comuns em outras universidades pelo país. Mas o caso da Unisa tem suas particularidades. Algumas alunas relatam, por exemplo, se sentirem constrangidas de cantar o hino, entoado principalmente em festas e jogos universitários e que elas julgam misógino. Diz a letra, em determinado trecho: "Enfia o dedo nela que ela vai arreganhar. O quê? Arrenganhar!"

Calouros e calouras também são coagidos a aceitar uma espécie de código de conduta assim que entram na faculdade. As regras são especialmente restritas às mulheres, para que pareçam "menos sexualmente atraentes possível", segundo um relato. A orientação dos veteranos é que elas nunca podem estar de cabelo solto, decote, acessórios, esmalte, saia ou shorts. Devem usar coque alto, calça comprida, blusa que cubra o corpo e sapato fechado. Os homens precisam ter o cabelo raspado.

Apelidos são obrigatórios, e muitas vezes com teor vulgar como "muriçoca" ("só para de chupar quando apanha") ou "ninfetinha". O machismo vai além. Uma das alunas afirmou ao GLOBO ter sabido da existência de um grupo de WhatsApp em que estudantes homens compartilhavam fotos de colegas com quem transaram, e onde circulavam imagens de alunas nuas ou em situação de vulnerabilidade.

Quem não participa dos trotes e recusa integrar os times esportivos ganha o apelido de "pau no c*". A divisão entre os bullys e aqueles que escolhem não se sujeitar ao comportamento imperativo na faculdade se dá em especial entre membros da Associação Atlética Acadêmica José Douglas Dallora, que organiza festas e os esportes, e o Centro Acadêmico Rubens Monteiro de Arruda.

O racha pode ser visto nos comentários abaixo da nota de repúdio publicada pelo centro acadêmico no Instagram. Uma parte dos alunos, incluindo algumas mulheres, rechaçou a publicação, dizendo se tratar de "fake news". Eles estão incomodados com a exposição negativa da faculdade e cobram os colegas para cessar a "difamação".

"NOTA RIDÍCULA! Se querem representar nossa amada faculdade com respeito é necessário reiterar que tais notícias são FAKE NEWS !!!!!! façam algo direito pelo menos", escreveu uma aluna.

Outro publicou: "tão maluco porra? em vez de esclarecer a fake news, lançam uma nota de repúdio como se fosse vdd, só sujando o nome da nossa faculdade, vcs tão de sacanagem".

A pressão sobre quem se levanta contra as "tradições" do curso é tamanha que poucos se manifestam prolongadamente sobre a polêmica dos atos obscenos. Quase todos os apoiadores da nota de repúdio responderam apenas com emojis de palmas.

A repercussão do episódio, no entanto, se tornou maior que a instituição. A Unisa foi notificada pelo Ministério da Educação e cobrada "para apurar quais as providências tomadas pela Unisa em relação aos fatos ocorridos, sob pena de abertura de procedimento de supervisão e adoção de medidas disciplinares". O Conselho Federal de Medicina (CFM) cobrou na terça-feira apuração das autoridades competentes. O caso também ganhou repúdio do Ministério das Mulheres, da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da classe política e da sociedade em peso.

O lema baseado nos três pilares acaba imperando sobre os valores humanistas idealizados pelos fundadores da faculdades em 1968, contam estudantes. A instituição foi concebida para suprir as carências da já então numerosa população da região de Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo.

A missão da Unisa é "formar profissionais de excelência, éticos e empreendedores, com visão humanística e crítica que respeitem a diversidade e atuem de maneira inovadora, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e sustentável".

Procurada, a Unisa ainda não se manifestou.

Caso 'masturbação coletiva':

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