Por Roney Domingos, Victor Farias e Patrícia Figueiredo, g1 SP, TV Globo e GloboNews — São Paulo


Show da cantora Luísa Sonza no palco Viaduto do Chá, no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo, durante a Virada Cultural, na tarde deste domingo, 29 de maio de 2022. — Foto: ALLISON SALES/FOTORUA/ESTADÃO CONTEÚDO

Após uma madrugada com arrastões e brigas, os shows da Virada Cultural deste domingo (29) tiveram clima tranquilo em palcos das zonas Norte e Sul de São Paulo, mas novos relatos de furtos e brigas ocorreram nas apresentações no Centro da capital.

A cantora Luísa Sonza chegou a interromper três vezes seu show no Vale do Anhangabaú, marcado para as 15h. Na primeira, o público sinalizou a ela que havia acontecido um roubo em frente ao palco. Ela chamou a polícia e, depois, retomou a música. Depois, ela voltou a parar a apresentação por conta de brigas. Durante as pausas, o público entoava gritos de "Ih, fora".

"Briga, não. Aqui é só amor. Briga não pode, gente, vamos acalmar o coração. Resolve aí. Tão brigando de novo ali", disse a cantora.

Luisa Sonza interrompe show na Virada Cultural após briga na plateia

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Em balanço divulgado no final da noite deste domingo (29), a prefeitura informou que 1.535 colaboradores da Limpeza Urbana trabalharam no evento, entre varredores, motoristas e encarregados, todos da equipe de limpeza urbana.

Além disso, administração municipal disse ainda que "reforçou o policiamento com um efetivo de 540 agentes e 176 viaturas no serviço operacional, além de 15 viaturas da Inspetoria de Operações Especiais – IOPE, que estiveram disponíveis para ações durante todo o período do evento".

Também em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que, "durante o evento, 585 pessoas foram abordadas e 10 detidas, em sua maioria na região central de São Paulo, aponta o balanço parcial da Polícia Militar. Os números finais serão apresentados amanhã (30)".

"Além disso, 55 veículos foram abordados, 53 motos vistoriadas e 21 autos de infração e autos de infração de trânsito realizados. Também foram recuperados pelo menos quatro celulares e uma faca foi apreendida", disse, em nota.

Palco do centro

Multidão acompanha show da cantora Luísa Sonza durante a Virada Cultural no Vale do Anhangabaú, no Centro de São Paulo, na tarde deste domingo (29) — Foto: Roney Domingos/g1

Moradora de Paraisópolis, na Zona Sul da capital, a copeira Lenir Corrêa dos Santos foi ao show da cantora Luísa Sonza acompanhada do marido Elimar Rodrigues Dias e do filho Gabriel Corrêa Dias. Para ela, este segundo dia de Virada Cultural foi menos perigoso do que o primeiro.

"Hoje foi bom, maravilhoso, eu adorei. Mas eu deixei meu celular em casa, porque é muito perigoso, né?", comentou.

Já a professora Vanda Bento, moradora da Bela Vista, região central, esteve nos dois dias de shows. No primeiro, ela presenciou uma briga entre espectadores, sem intervenção da polícia. No segundo dia, houve reforço da atuação policial e ela não acompanhou nenhum conflito, embora tenha ouvido que eles ocorreram. Por precaução, Vanda deixou o celular e a carteira em casa.

Apresentação da cantora Luísa Sonza, no palco Viaduto do Chá, na Virada Cultural de São Paulo, na tarde deste domingo (29), no Vale do Anhangabaú (SP) — Foto: ROBERTO SUNGI/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

No início da noite, o mesmo palco recebeu o show da banda Planet Hemp, que teve rodas de "bate-cabeça", dança coletiva comum em shows de heavy metal.

O cantor Marcelo D2 destacou ao microfone que não houve "nem uma briga sequer". A reportagem não presenciou crimes ou confusão durante o show, apenas duas pessoas sendo atendidas após passarem mal.

Apresentação da banda Planet Hemp no palco Viaduto do Chá, na Virada Cultural de São Paulo, na noite deste domingo (29), no vale do Anhangabaú (SP). — Foto: ROBERTO SUNGI/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Já no palco da Parada Inglesa, na Zona Norte, o show do funkeiro Kevin O Chris às 13h teve ambiente tranquilo e reuniu muitas famílias com idosos e crianças.

Perto dali, no palco Carandiru, a apresentação do Neguinho da Beija Flor, às 14h, também atraiu muitas crianças, principalmente por conta do lineup do começo do dia, que teve atrações infantis, como o Beatles Para Crianças.

Na Zona Sul, o show de Zeca Baleiro às 13h também teve público variado espalhado pelo gramado da Praça do Campo Limpo. Com cangas estendidas no chão, as famílias juntaram crianças ao redor de brinquedos e acompanharam, com tranquilidade, a apresentação do cantor maranhense (veja no vídeo abaixo).

Após madrugada de violência e arrastões, Virada Cultural tem domingo tranquilo

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Já na Zona Oeste, o show da cantora Pitty no palco Butantã foi marcado por reclamações sobre a infraestrutura de som.

"Aumenta o som, aumenta o som", gritava o público da roqueira.

Em diversos palcos, os gritos mais comuns foram aqueles críticos ao presidente Jair Bolsonaro (PL), como "Fora, Bolsonaro", e também de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Essas manifestações também foram registradas nos shows dos artistas Ana Canãs, Criolo e Arnaldo Antunes, na noite de sábado (28).

Já a cantora Ludmilla se apresentou no palco do Largo do Rosário, na Freguesia do Ó.

Show da cantora Ludmilla durante Virada Cultural, no palco do Largo do Rosário, neste domingo (29). — Foto: MINETO/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Madrugada no Centro

A madrugada do domingo (29) na Virada Cultural foi marcada por violência, com arrastões, agressões, roubos e furtos de celulares nos palcos da região central.

Marcas de sangue no Vale do Anhangabaú, na Virada Cultural — Foto: Victor Farias/g1

A reportagem flagrou e gravou esses crimes em vídeos, durante a cobertura do evento, entre a noite deste sábado (28) e a madrugada de domingo (29) no Vale do Anhangabaú, Centro da cidade, onde estava um dos palcos. Por causa da confusão, o show do funkeiro Kevin foi interrompido antes do previsto.

Público relata arrastões, agressões, medo e insegurança durante Virada Cultural em SP

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Frequentadores ouvidos pelo g1 criticaram a atuação dos policiais militares e guardas-civis metropolitanos na segurança do evento. Uma estudante foi agredida por golpes de cassetetes de policiais e precisou de atendimento médico.

"Eles começaram a bater nele, e eu perguntei o que tava acontecendo. Aí eles falaram: "sai daqui, vagabunda". Eu fiquei, mano, por quê? Aí eles me bateram aqui, na minha cabeça", disse a estudante, mostrando as mãos e cabeça ensanguentadas, após policiais militares baterem nela com cassetete.

Estudante reclama de violência policial durante Virada Cultural no Centro de São Paulo. — Foto: Victor Farias/g1

Estabelecimentos que vendiam comida e bebida no local também interromperam o serviço antes do previsto devido à insegurança. Funcionárias das lanchonetes relataram medo de ir embora da região e diziam que não teriam aceitado o trabalho se soubessem que a noite seria daquela forma — sentimento reverberado por outros profissionais que trabalhavam no evento.

"Vamos ficar aqui até o pessoal vir tirar a gente, o segurança", disse a atendente Ingrid Rodrigues, de 24 anos, que estava junto dos demais funcionários presos em uma das lojas, como forma de proteção.

Kevinho encerra show após episódios de violência na Virada Cultural — Foto: Victor Farias/g1

Revoltado, parte do público criticou a segurança da Virada Cultural. Fã de Kevinho, João Portela, de 26 anos, foi agredido durante o show do funkeiro ao lado de sua mãe. A reportagem encontrou ele com o rosto inchado e com marcas de sangue.

"Estamos ali na praça. No tempo que eu estou ali, já foram uns 15 arrastões. Não tem policiamento, ali não tem nada, é só bandido. Se eles não levam o que eles querem, eles te batem", disse.

Suspeitos detidos

Pelo menos dez pessoas foram detidas pela Polícia Militar (PM) e pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) por suspeita de arrastões, roubos e furtos de celulares de frequentadores durante a Virada Cultural, entre a noite de sábado (28) e a madrugada deste domingo (29), no Centro de São Paulo.

Além disso, pelo menos duas pessoas foram esfaqueadas no Centro na madrugada. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, duas pessoas compareceram a uma base da PM, na manhã deste domingo (29), para denunciar um caso de agressão cometido por um adolescente, no Centro Histórico, durante a Virada.

As vítimas levaram o suspeito até os policiais relatando que foram feridas com uma faca pelo jovem, que também teria agredido outras três pessoas com o mesmo objeto, sendo estas encaminhadas para a Santa Casa. Ainda segundo o relatado, o menor e um comparsa tentaram furtar uma das vítimas, não obtendo êxito. Percebendo a ação, a vítima foi tirar satisfação e começou uma discussão. Durante a briga, o adolescente a teria ferido com uma faca na região do rosto.

Questionado, o jovem negou as versões apresentadas e disse que apanhou das vítimas. O caso foi registrado no 8º Distrito Policial como lesão corporal e será encaminhado ao 1º DP.

Vídeos mostram arrastões, agressões, roubos e furtos de celulares durante Virada Cultural em SP

Vídeos mostram arrastões, agressões, roubos e furtos de celulares durante Virada Cultural em SP

Em nota, a prefeitura declarou que "devido aos episódios ocorridos no Vale do Anhangabaú, a Guarda Civil Metropolitana reforçou o policiamento na região central da cidade".

"A Guarda Civil Metropolitana está atuando na Virada Cultural 2022 por meio de policiamento preventivo e comunitário, em apoio à Secretaria Municipal de Cultura, Subprefeituras e Polícia Militar. A SMSU reforçou o policiamento com um efetivo de 540 agentes e 176 viaturas no serviço operacional, além de 15 viaturas da Inspetoria de Operações Especiais – IOPE, que estão disponíveis para ações durante todo o período do evento", disse, em nota.

Movimentação policial durante a Virada Cultural no palco do Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo, marcada pela violência durante da noite de sábado, 28 — Foto: ISAAC FONTANA/CJPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Também em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP), responsável pela Polícia Militar, também disse que reforçou o efetivo "com 1,4 mil policiais militares e apoio de mais de 300 viaturas".

"Durante o evento, a PM ainda disponibilizou Bases de Policiamento Comunitário, instalações físicas e o emprego do efetivo da operação Sufoco, o qual dobrou o número de policiais nas ruas desde o início de maio. Esses agentes foram deslocados aos pontos de maior concentração de público. Também houve apoio do Comando de Policiamento de Trânsito, Choque e do Comando de Aviação, além do uso de câmeras de viodeomonitoramento para a identificação de condutas suspeitas, anti-sociais e criminosas, e do emprego das Câmeras Operacionais Portáteis nos uniformes dos militares durante todo o evento", disse.

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