Maldição de Telê? Cuca não paga promessa e vive fase ruim no Atlético-MG

Apenas um titular do time que venceu o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil do ano passado deixou o Atlético-MG. O elenco atual é considerado pelo técnico Cuca e pela diretoria ainda mais forte que o de 2021, uma temporada marcada por grandes conquistas. Então o que pode explicar o rendimento atleticano tão abaixo do esperado, com um modesto 7º lugar no Brasileirão e eliminado nas Copas do Brasil e Libertadores? Talvez a resposta não esteja dentro de campo, mas sim numa promessa não cumprida.

Em novembro do ano passado, quando o Atlético-MG estava próximo do título nacional, Cuca comentou sobre a possibilidade de pagar uma promessa feita por Telê Santana em 1971 e não cumprida. O primeiro treinador campeão brasileiro pelo Galo prometeu caminhar quase 70 quilômetros entre Belo Horizonte e Pires, um povoado localizado na cidade de Congonhas.

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"Vou sim. Vou escondido de vocês (imprensa) para não fazer propaganda. Vamos combinar com a família do Telê. Se for acordo de todos, vou com o maior prazer. Já falei com o presidente para olhar isso. Mas vou sim", disse Cuca, após o triunfo do Atlético sobre o Juventude, por 2 a 0, no Mineirão, pela 34ª rodada do Brasileirão.

A autorização da família de Telê Santana foi dada, mas Cuca não cumpriu a promessa. O título foi conquistado em 2 de dezembro, na vitória por 3 a 2 sobre o Bahia, em Salvador. Como em seguida o Galo tinha a decisão da Copa do Brasil com o Athetico-PR, o foco era todo nas partidas finais. Cuca sequer retornou a Minas Gerais após o segundo título nacional conquistado em 2021, na noite de 15 de dezembro. Alguns dias depois, o técnico confirmou que não seguiria na Cidade do Galo em 2022.

Bastante religioso, Cuca sabe que não cumprir promessa é um pecado para os católicos e o castigo pode ser grande. Desde que voltou ao Atlético, o treinador comandou o time em dez partidas e venceu apenas duas vezes. Talvez uma caminhada até Pires seja o que falta para o Atlético reencontrar o bom futebol de 2021.

A promessa original

No dia 19 de dezembro de 1971 o Atlético venceu o Botafogo por 1 a 0, no Maracanã, e conquistou o Campeonato Brasileiro. No dia seguinte, antes das 6h, Telê Santana partiu rumo à Igrejinha de Pires. O treinador atleticano estava acompanhado pelo preparador físico Léo Coutinho, o enfermeiro Otacílio, e o diretor de futebol Neri Campos. Aos poucos, com o calor, vestimentas inadequadas e poucas horas de descanso entre o título conquistado no Rio de Janeiro menos de 24 horas antes, um por um foi desistindo da caminhada de 67 quilômetros.

Telê Santana foi o último a desistir, e completou o trajeto num carro da Polícia Rodoviária Federal (PRF). De acordo com o livro "1971: o ano do Galo", escrito por Marcelo Baêta, o então treinador do Atlético caminhou 25 quilômetros. Já de acordo com a edição de 21 de dezembro de 1971 do jornal Estado de Minas a caminhada de Telê foi de 45 quilômetros. De acordo apenas que o trajeto de quase 70 quilômetros não percorrido todo a pé, já que o treinador pegou um carona para cumprir a promessa de rezar na Igrejinha de Pires.

E olha não faltou incentivo a Telê Santana, já que a estrada que liga Belo Horizonte a Congonhas é a Rodovia Presidente Juscelino Kubitschek (BR 040), vai do Rio de Janeiro a Brasília e passa por BH. Enquanto Telê seguia rumo a seu destino, muitos atleticanos estavam retornando do Maracanã e paravam para tirar fotos com o treinador campeão brasileiro. Mas o cansaço foi superior e a promessa foi cumprida parcialmente.

Para os torcedores mais religiosos, a promessa feita e não cumprida por Telê Santana foi um dos motivos para o Atlético ficar tantos anos sem ser campeão brasileiro. O Galo bateu algumas vezes na trave nesses 50 anos, entre a primeira conquista e o título de 2021, sendo que a promessa de Telê era lembrada a cada novo fracasso.

Cuca já caminhou 23 quilômetros pelo Atlético

Prometer caminhar após alcançar um objetivo pelo Atlético não chega ser uma novidade para Cuca. Na primeira passagem do treinador pela Cidade do Galo, que começou em 2011, a situação era muito mais crítica do que a atual. Pouco depois de deixar o Cruzeiro, o treinador foi contratado pelo então presidente Alexandre Kalil para uma missão quase impossível: evitar o rebaixamento do Atlético.

Cuca assumiu o time no do primeiro turno, afundado dentro da zona do rebaixamento. Mas com uma campanha de reação no segundo turno, o Galo evitou qualquer risco de rebaixamento ao fazer 4 a 0 no Botafogo, na Arena do Jacaré, pela 37ª rodada. Após a goleada, Cuca foi para Goiás, para cumprir a promessa de caminhar 23 quilômetros.

Acompanhado por Eduardo Maluf e Lásaro da Cunha, dirigentes atleticanos à época, Cuca seguiu de Goiânia até Trindade, para deixar uma camisa do Atlético assinada pelos jogadores na Sala dos Milagres do Santuário Divino Pai Eterno. O trajeto foi feito em pouco mais de quatro horas.