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Por Eric Faria, Gustavo Rotstein e Raphael Zarko — Rio de Janeiro


Em entrevista ao Esporte Espetacular, Anderson Daronco falou sobre o momento da arbitragem brasileira, que vem sendo muito questionada na temporada. O árbitro defendeu os colegas de profissão do país das críticas que vêm recebendo de clubes, imprensa e torcida. Definiu o trabalho como "excelente" e "um dos melhores do mundo".

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- A arbitragem brasileira é excelente, porque ela acompanha o nosso futebol. Eu não estou sendo corporativista, eu vivo isso há muito tempo e conheço a seriedade dos meus companheiros.

- A gente não apita um campeonato fácil. Nós temos o melhor futebol do mundo, então pode ter certeza de que a nossa arbitragem também faz parte das melhores do mundo. Desde o nosso processo de formação, somos forjados a lidar com tudo isso (comportamento de jogadores e pressão) - disse Daronco.

Anderson Daronco em entrevista ao Esporte Espetacular — Foto: EE

Árbitros estudando em intertemporada promovida pela CBF — Foto: Esporte Espetacular

O objetivo foi estancar a crise do apito, que tomou conta do debate esportivo nas últimas semanas. Daronco comentou o momento da arbitragem e cobrou outros personagens do jogo:

- A arbitragem está fazendo a sua parte. A gente está procurando aproximar critérios, treinamentos, que é o que a gente precisa com uma frequência maior. Mas a gente também precisa que os outros envolvidos em todo esse contexto procurem ajudar. Que atletas e dirigentes procurem colaborar um pouco mais. O árbitro só é bom quando a equipe ganhou com aquele árbitro, quando perdeu deixou de ser bom. Um erro, quando é a seu favor, você se cala. Quando é contra, é a pior coisa do mundo.

Anderson Daronco em entrevista ao Esporte Espetacular — Foto: Esporte Espetacular

Árbitro de vídeo

Uma das principais críticas à arbitragem brasileira é o uso do VAR. A falta de critérios em lances capitais e a interpretação da cabine fazem parte das inúmeras perguntas que são feitas rodada a rodada. Anderson Daronco defendeu o uso da ferramenta e disse que há um desconhecimento do público geral sobre as orientações da Fifa.

- Não dá para atacar uma ferramenta que veio pra deixar o futebol mais justo. A gente percebe que muitas vezes o ambiente externo da arbitragem acaba fazendo questionamentos acerca do VAR até por desconhecimento. Durante a sua aplicação, a gente percebeu inúmeros debates, seja de torcedores, imprensa ou clubes, questionando a forma do uso da ferramenta. Só que isso não vai mudar. É a aplicação que a Fifa dá, vem de cima para baixo a forma como a Fifa quer que isso seja utilizado. Então a gente vê isso de desconhecimento, de cobrança - defendeu o árbitro.

Quando ir ao monitor?

- Por que nesse tipo de lance aqui não foi? Porque não tinha que ir. Vou citar um exemplo, uma falta dentro ou fora da área. O árbitro tomou a decisão ali e no fim das contas tinha que mudar a decisão. Isso protocolarmente o árbitro não precisa ir lá no vídeo olhar, mas as pessoas te cobram. Para esse tipo de lance, basta receber a informação. Em outros lances, no campo eu já tive a minha decisão, e a decisão do árbitro de vídeo, das pessoas que estão na cabine, é a mesma que a minha. Olhando o vídeo, eles pensam o mesmo que eu. Por isso eu não fui ver. Quando a gente vai, é porque existe essa discordância, porque eles estão vendo uma coisa além do que eu vi no campo - relatou o árbitro.

Debates na imprensa

Daronco afirmou que, quanto mais se fala em arbitragem, é pior para os árbitros. Para o árbitro, o debate do futebol brasileiro muitas vezes fica em cima de quem apita o jogo, e não do jogo em si.

- É muito mais fácil atacar a arbitragem, que os caras vão ficar 24 horas falando acerca de arbitragem e às vezes parece que chega a ser até falta de respeito com o próprio público, porque o público também quer ver um pouco mais de futebol, entender o futebol. Embora a gente saiba que o sangue vende, né. Essa questão muitas vezes de polêmica, até polêmicas onde não tem polêmica em decisões de arbitragem, a gente sabe que isso acaba gerando uma tensão muito maior - disse, para completar:

- A imprensa podia chegar mais junto e cobrar: por que que quando é aqui é de um jeito e quando vai jogar fora é de outro? Eles mudam. A gente consegue observar isso aqui. Muitas vezes as mesmas equipes daqui quando jogam o Brasileiro é um tipo de comportamento, quando vão jogar Libertadores é um outro comportamento, mas já é pré-condicionado, não é porque chega um árbitro ali no campo de jogo e faz milagre. Não tem isso. Já é um comportamento diferente.

Cera dos jogadores

O árbitro também questionou a cera exagerada que os jogadores fazem quando estão vencendo, principalmente a dos goleiros. Nos primeiros 100 jogos do Campeonato Brasileiro, o Espião Estatístico fez um levantamento que quase 90% dos atendimentos médicos aos goleiros aconteciam quando o time estava ganhando ou perdendo. Daronco criticou esse comportamento:

- Tem coisas que um jogador faz quando está vencendo o jogo e quando está perdendo é um comportamento diferente. Vou te dar um exemplo: a questão de tempo, de cera. Claro que a gente faz o máximo possível pra coibir. Só que eles aceitam. Quando eu estou ganhando eu acho bonito, é malandro fazer isso.

Lado pessoal dos árbitros

Embora exista uma grande pressão em cima dos árbitros, Daronco disse que o ambiente no estádio é mais hostil do que fora. Nas ruas, ele conta ser abordado como "ídolo", com fotos e pedidos de cartões, mas afirmou "quantos menos tocarem no meu nome, melhor".

- Muitas vezes parece que as pessoas pensam que o árbitro é de outro planeta. Parece que ele chega no campo de futebol, cai de paraquedas, apita e some. Eu tenho minha vida normal. Levo meu filho no colégio, vou ao mercado, muitas vezes acabo escutando. Mas na maioria dos locais a que eu vou, sou abordado como se fosse um ídolo. Não quero me equiparar a um grande jogador, mas os caras chegam pedindo pra tirar foto, pedem camisa no estádio, cartão, para ter uma recordação de ti. Acredito que conquistei isso no próprio campo com o respeito pelos atletas. Isso é muito bacana, porque acaba sendo um pouco conflitante com coisas que a gente acaba acompanhando na mídia.

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